Atualmente, o ideal do amor e dos relacionamentos amorosos (com convivência ou sem convivência) está relacionado ao que se denomina amor romântico. O amor romântico promove formas particulares de relações e de formação de família, que influenciam os desejos e comportamentos, que, ao contrário do que se pensa, não são naturais, mas construídos historicamente e, por isso, podem ser transformados.
Podemos mencionar algumas características do modelo de amor romântico e seus mitos:
- Desenvolve-se a ideia de que existe uma pessoa especial para cada um, que virá para ser seu complemento e só então será possível alcançar a felicidade. O mito é a crença de que existe uma “metade da laranja” para cada um, que seria uma pessoa predestinada, o que gera situações de dependência e subjugação, pois acredita-se que há apenas uma pessoa indicada, fazendo com que se faça tudo para estar com ela.
- Estipula-se que os relacionamentos amorosos são entre um homem e uma mulher cisgêneros e heterossexuais, com seus papéis de gênero determinados culturalmente, ou seja, a mulher é responsável pelas tarefas de cuidado, criação, centrada no espaço privado e sem acesso ao trabalho remunerado; enquanto o homem cumpre o papel de provedor e se desenvolve, principalmente, no espaço público. Nessa mesma lógica de considerar as pessoas como complementares, existe o mito muito difundido de que “os opostos se atraem”, normalizando discussões e brigas entre casais e até mesmo a violência nesses relacionamentos.
- Considera-se o amor como uma experiência que supera a vontade, que está fora do controle de quem o sente. Nessa característica, o mito se sustenta na compreensão do amor como uma força da natureza incontrolável, fora de todo controle de quem ama. Porém, nesse apelo de controle, as pessoas renunciam à sua intimidade como prova de amor, pois “quem nada faz nada teme” e compartilham suas senhas das redes sociais, enviam mensagens frequentemente para saber onde está o parceiro, entre outras situações. Surge o mito da entrega total, onde se pode deixar tudo para estar com essa pessoa predestinada, o que gera dependência e o esquecimento da própria vida, expectativas e projetos que não estejam no contexto do casal.
- Está fundado em relações assimétricas, os homens têm o controle das diferentes etapas do relacionamento, desde o cortejo até a relação de casal, enquanto a mulher tem um papel passivo. Essa relação assimétrica contribui para perpetuar a crença de que o casal é propriedade privada, reforçando o mito de que o ciúmes é uma prova de amor, “se ele/ela tem ciúmes, é porque te ama”.
Assumir um modelo de amor romântico não é saudável e aumenta as probabilidades de exercer e sofrer violência nos relacionamentos amorosos devido à crença de que “o amor tudo pode”. Devemos nos afastar desses mitos e construir um relacionamento saudável sob as nossas próprias regras: um relacionamento transparente, onde o respeito, a confiança e o apoio são a base para nos ajudar a caminhar juntos de mãos dadas, e nunca um atrás do outro.
Autor: Inspiring Girls